sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

DENISE CAMPOS DE TOLEDO / RISCO DE INGOVERNABILIDADE RONDA TEMER - DEZEMBRO DE 2016



O mercado está refletindo o ambiente político e econômico, com receio de um agravamento da crise nos vários aspectos. A disputa entre os poderes produz um desgaste maior da classe política, que pode bater no presidente Temer, já fragilizado pelo desempenho ruim da economia e pelo risco de maior envolvimento do governo nas denúncias da Lava Jato e nas delações, especialmente da Odebrecht, que estão para sair do forno. Pegou muito mal a armação da Câmara para desfigurar as medidas anticorrupção e a tentativa de Renan Calheiros de votar a matéria em regime de urgência, em resposta à ameaça dos procuradores de renunciarem à força tarefa da Lava Jato. O clima institucional está pesado e é tudo que o País não precisa num momento em que tenta reverter a crise econômica. Uma crise histórica como mostraram os dados do desemprego e do PIB que saíram nesta semana. Preocupou, principalmente, a queda dos investimentos, que é uma indicação de menor confiança das empresas, de investidores, nas perspectivas do País. Os investimentos estão em 16,5% do PIB, deveriam estar em 20% pra alavancar um desempenho melhor da economia. E a crise política pode tornar tudo mais difícil. Se essas arapucas do Congresso chegam às mãos de Temer para aprovar ou vetar, o governo pode ficar numa grande enrascada. Se aprova fica ainda mais impopular. E terá de tomar medidas impopulares, como a Reforma da Previdência, para promover o ajuste fiscal, fundamental pra dar uma base mais firme à retomada do crescimento. Se veta, arruma briga com o Congresso, que terá de aprovar as medidas. Sem o ajuste, o potencial de reação da economia fica mais comprometido. O governo Temer corre o risco de cair numa situação de ingovernabilidade como o anterior. Todo esse ambiente é que provocou a reação negativa do mercado. Reação que pode prosseguir, já que não podemos contar muito com a disposição da classe política de pacificar o País. E o cenário externo pode colocar mais lenha na fogueira, com a alta dos juros nos Estados Unidos, a política de Trump, as incertezas quanto aos rumos do bloco europeu. O ano de 2016 não vai deixar boas lembranças e já está contaminando o cenário de 2017.


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