terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

TEORIZANDO SOBRE O FUTURO PRÓXIMO DE PERUÍBE




Fazer previsões de curto prazo (próximos meses de 2013) sobre Peruíbe é impossível. Muitas mudanças imprevisíveis e sobressaltos ocorrerão nesse período de onze meses, tanto na política, economia e até na cultura daqui. Mas posso tentar fazer alguma afirmação para o médio prazo (2014 e 2015), me baseando apenas em tendências históricas, questões do passado e da atualidade.

O que sabemos sobre o sistema econômico da cidade em que vivemos? Sabemos que Peruíbe possui uma economia baseada na tríade turismo/comércio/construção civil, muito dependente da vinda de turistas/veranistas, oriundos principalmente da Grande São Paulo, o quais formam uma enorme população temporária principalmente durante o verão, o que acabou gerando até mesmo um movimento migratório de aposentados de classe média (principalmente paulistanos) para cá. Esses migrantes possuem condições sociais superiores a maioria dos "nativos" (caiçaras), que além de terem se tornado minoritários no município (menos na Barra do Una), perderam o sotaque característico, similar ao modo de falar dos Iguapenses. Também ocorreu um considerável movimento migratório de nordestinos, devido a demanda de trabalhadores para a construção civil. A pesca artesanal e a agricultura de subsistência perderam a importância.

É preciso dizer que esse sistema(tríade), mesmo tendo trazido progresso para a cidade, não beneficiou a todos, a começar por vários caiçaras, que simplesmente deixaram bairros praianos para irem viver nos futuros subúrbios (o que francamente, não significou "progresso" para essas pessoas). O declínio das atividades pesqueiras e agrícolas gerou oferta de mão-de-obra barata para o crescimento da tríade econômica, que também contou com trabalhadores forasteiros para se desenvolver. O desemprego sempre foi uma realidade, pois o mercado de trabalho local nunca foi capaz de oferecer as vagas de trabalho necessárias para a maioria (taxa de desocupação zero, nem na Suíça), um dos fatores que contribuíram para que esta fosse uma cidade onde até hoje predominam salários baixos. Para muitos dos que nasceram aqui, a alternativa passou a ser partir. Os funcionários públicos (sejam eles municipais, estaduais ou federais), formam castas invejadas pelos desprestigiados e até por vários indivíduos que garantem um bom padrão de vida integrados na tríade.

Mas um futuro problema - inclusive para a parcela da população que detêm riqueza e privilégios - é que esse sistema possui um "tempo de vida". Ele nasceu nos primeiros anos da emancipação, e tem vivido uma existência “normal”, de acordo com as regras que os seus "pais" criaram, mas que em algum momento entrará em crise. O aparentemente finado projeto do Porto Brasil e o Pré-sal (cadê ele?) contribuíram para uma considerável elevação de preços no mercado imobiliário, tornando esta cidade bem mais cara para se morar, empurrando o modelo econômico local ao seu limite de sustentação. Como atrair mais paulistanos aposentados - e importantes consumidores para o bom funcionamento da tríade - de classe média para residirem aqui, com custos de moradia maiores do que os da década passada? 

Claro que o encarecimento de imóveis não é o único motivo para o futuro esgotamento do sistema. O turismo popularesco, já estereotipado por visitantes com carros tunados tocando funk, rende menos do que o necessário para gerar a ainda sonhada prosperidade. Cadê os turistas endinheirados, com os seus iates? Prefiro eles (preconceito meu? Então tá), do que a uns cinquenta funkeiros alugando uma única casa, e enchendo o saco da vizinhança com uma música altíssima (tocada de dia e de noite), de baixo nível e simplesmente horrorosa. Compram um frango que será dividido entre dez "duristas", e tratam 10 R$ como se fossem 100 R$. Assim, a tríade não aguenta. É fato histórico que um dos motivos de tantos aposentados paulistanos terem se mudado para cá é o sossego, mas cadê esse sossego quando a porcaria do "ELA NÃO ANDA, ELA DESFILA", fica tocando na casa que um vizinho costuma por para alugar, fazendo mais barulho do que um casal de rinocerontes no cio?

Peruíbe se tornou uma cidade que muito pouco produz. De acordo com uma pesquisa feita pelo Instituto Pólis em 2012 (link aqui), a atividade agropecuária correspondeu a apenas 2,3% da riqueza produzida em 2009.  O LEITE DE BÚFALA virou lenda de um passado não tão distante. 






A taxa de desocupação é de 10,3% da população (cerca de seis mil pessoas, em uma cidade com pouco mais de 60.000 moradores), maior do que a média brasileira. De acordo com a pesquisa, "quase um terço da população de Peruíbe, 16 mil pessoas (27,3%), vive abaixo da linha da pobreza, ou seja, têm renda per capita menor do que ½ salário mínimo. Desse total, 17,7% (10,4 mil pessoas) ganham entre ½ e ¼ salário-mínimo, e 9,6% (5,6 mil pessoas) vivem abaixo da linha da indigência (com renda abaixo de ¼ de SM). Metade da população residente (49,97%) contava com renda de até 2 salários."

E ainda tem quem diga que pouco temos a ver com o Vale do Ribeira. Ora, esses indicadores sociais são valeribeirenses, o que nos coloca em uma posição bem desfavorável nesta Baixada Santista, na qual Peruíbe é a última cidade, tanto na localização geográfica quanto no próprio desenvolvimento. Em que outro lugar da Baixada 55% da população economicamente ativa trabalha na informalidade, ou seja, desconhecendo as regras da CLT? 

Por aqui continua a predominar a mão-de-obra barata e sem qualificação, a qual não tem sido devidamente absorvida pela principal fonte de empregos formais, o comércio (38,7% do total). A construção civil emprega bem menos do que se imagina (6,1%), e o setor de serviços - que inclui o turismo - oferece 29,2% dos empregos no município. Já a administração pública (pois é, o funcionalismo público), reúne 22,7% dos moradores com empregos. 


O fato é que Peruíbe precisa urgentemente promover o crescimento de outros setores da economia para que o desemprego possa se reduzir para níveis confortáveis. Claro que de acordo com a pesquisa, no ano 2000 existiam 26,5% de desempregados (eu era um deles), o que faz com que o atual índice de 10,3% pareça bom, o que até cria a ilusão de que muitas vagas de trabalho surgiram na década passada, mas esse índice só caiu devido a um movimento migratório em massa de jovens, impossibilitados de melhorarem de vida e encararem o futuro com confiança aqui mesmo em Peruíbe.

Então, agora que a postagem se aproxima do fim, e considerando os fatos aqui mencionados, concluo o que é lógico: se a administração pública não for capaz de tirar a agropecuária, a pesca e a indústria ( a eterna promessa !!!) da letargia, incentivando um ambiente de empreendedorismo para um crescimento real dessas atividades, a migração continuará a ser um caminho.  É uma afirmação que já fiz várias vezes, em muitos outros textos, reforçada pelos dados aqui apresentados. Sem medidas que possam dar resultados em pelo menos um ou dois anos (2014 e 2015, os anos futuros que citei no início da postagem), a terra da eterna juventude poderá sofrer até redução demográfica.

Exagero catastrofista? Ora, se apenas metade desses cerca de 16 mil peruibenses que vivem - ou tentam viver - abaixo da linha da pobreza resolvessem ir embora daqui, no mesmo ano, após concluírem que esta terra jamais lhes dará oportunidades, ocorreria um verdadeiro êxodo, com um inevitável - e desagradável - destaque na mídia. Distopia minha? Talvez.


Um comentário:

betaodanextel disse...

Concordo morei por um ano no guarau, frixei tudo em sao paulo, me arrependi, voltei para sao paulo ja fazem 2 anos,falta tudo nesta cidade. Estou vendendo a minha casa ,
peruibe never more