quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

GRÉCIA CORRE O RISCO DE SOFRER UMA GUERRA REVOLUCIONÁRIA



Apesar da fúria popular, austeridade é aprovada na Grécia

O Parlamento da Grécia aprovou um impopular projeto de austeridade nesta segunda-feira para garantir um segundo resgate da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) e evitar um calote nacional.

Ao mesmo tempo, prédios queimavam na região central de Atenas e a violência se espalhava em todo o país.


Ao todo, 199 dos 300 parlamentares apoiaram o projeto, mas 43 deles de dois partidos do governo do primeiro-ministro Lucas Papademos, os socialistas e conservadores, rebelaram-se ao votarem contra o projeto. Eles foram imediatamente expulsos de suas legendas.


Cinemas, cafés, shoppings e bancos eram vistos em chamas na região central de Atenas, e manifestantes com máscaras pretas enfrentavam a política do lado de fora do Parlamento, antes de os parlamentares aprovarem o pacote que prevê profundos cortes em salários, pensões e de emprego – o preço de um resgate de 130 bilhões de euros (US$172 bilhões) necessário para manter o país solvente.


A rebelião e a violência nas ruas dão uma prévia dos problemas que o governo grego enfrenta para implementar os cortes, que incluem uma redução de 22% no salário mínimo – um pacote que, segundo críticos, condena a economia a se afundar numa espiral de baixa ainda mais profunda.


Papademos, um tecnocrata que caiu de paraquedas na crise, condenou a pior onda de protestos desde 2008, quando a violência assolou a Grécia por semanas após a polícia atirar num estudante de 15 anos.


- Vandalismo, violência e destruição não têm lugar num país democrático e não serão tolerados – afirmou Papademos ao Parlamento conforme preparava a votação.


Sacrifício de curto prazo


Mas ele admitiu que será difícil impor as medidas de austeridade sobre a nação, já golpeada por vários anos de cortes.


- A total, oportuna e eficaz implementação do programa não será fácil. Estamos totalmente cientes de que o programa econômico significa sacrifícios de curto prazo para a população grega – disse Papademos.


A Grécia precisa de financiamentos internacionais antes de 20 de março, para pagar 14,5 bilhões de euros em dívidas. Do contrário, sofrerá um caótico default que poderá sacudir toda a zona do euro.


Fora do Parlamento, o caos dominou. Um fotógrafo da Reuters viu prédios em Atenas tomados por chamas e grandes colunas de fumaça subirem ao céu durante a noite.


- Nós estamos enfrentando destruição. Nosso país, nosso lar, se tornou lenha para queimar, o centro de Atenas está em chamas. Nós não podemos permitir que o populismo queime o nosso país – afirmou ao Parlamento o conservador Costis Hatzidakis.


O ar em torno da Praça Syntagma, do lado de fora do Parlamento, estava carregado de gás lacrimogênio, na medida em que a polícia lutava contra jovens que jogavam bolas de gude e ativaram pedras e bombas incendiárias.


Gregos e turistas aterrorizados fugiam das ruas cobertas de pedras e de nuvens de gás, amontoando-se em saguões de hotéis em busca de abrigo, ao mesmo tempo em que filas de policiais tentavam conter o caos.


Nas ruas de Atenas, muitos pontos comerciais estavam em chamas, incluindo a casa neoclássica do cinema Attikon, datada de 1870, e o edifício Asty, um cinema subterrâneo usado pela Gestapo como câmara de tortura durante a Segunda Guerra Mundial.


Sem boas escolhas


UE e o FMI afirmaram que eles tiveram promessas quebradas o suficiente e os empréstimos serão liberados somente com o compromisso claro de líderes políticos gregos de que vão implementar as reformas, independente de quem vença as eleições a serem realizadas provavelmente em abril.


A Alemanha, tesoureira da zona do euro, aumentou a pressão no domingo. – As promessas da Grécia não são mais suficientes para nós – afirmou o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble, em uma entrevista publicada no jornal Welt am Sonntag.


- A Grécia precisa fazer a sua lição de casa para se tornar competitiva, seja em conjunção com um novo programa de resgate ou por outra rota que nós realmente não queremos tomar – comentou.


Quando questionado se outra rota significava sair da zona do euro, Schaeuble disse: – Está tudo nas mãos da Grécia. Mas até mesmo nesse evento (a Grécia deixar a zona do euro), eles continuarão fazendo parte da Europa. -


A lei estabelece um corte orçamentário extra de 3,3 bilhões de euros (US$4,35 bilhões) apenas para este ano.


Muitos gregos acreditam que seu padrão de vida já está desabando e que as novas medidas irão aumentar o sofrimento.


- Já chega é já chega! – afirmou Manolis Glezos, de 89 anos, um dos esquerdistas mais famosos da Grécia e um herói nacional. – Eles não têm ideia do que uma revolta do povo grego significa. E o povo grego, independentemente de ideologias, ressurgiu. 



Fonte: http://correiodobrasil.com.br/ 




Comentário: me pergunto se neste momento já existem uns "camaradas" sonhando com uma revanche da guerra civil grega ( 1944/1949), na qual combatentes monarquistas e comunistas se enfrentaram. A turma do foice e do martelo perdeu e a Grécia escapou de ter um destino semelhante ao da Iuguslávia ou da - aí seria pior - vizinha Albânia. Mas quem sabe agora, não é mesmo? Os protestos já provocaram muita destruição na milenar Atenas, mas duvido que essa fúria se limite a isso. O risco de luta armada em um futuro próximo é real, favorecido pela extrema impopularidade do atual governo e o desespero de milhões de gregos, principalmente os mais jovens, oprimidos pela miséria.

Essa revolta não se limitará a protestos nos quais tem se destacado o cachorro "Loukanikos". A etapa bonitinha do período pré-revolucinário da falida república helênica está no fim. Dias terríveis virão para o povo grego, já que "Revoluções com violência" são muito, mas muito sangrentas. Quem tem dúvida que veja a atual situação da Síria.

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